segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A mí, las alas me sobram

Você provavelmente já deve ter ouvido falar dela, passado por algum de seus poemas célebres, visto seu rosto estampado em camisetas, xícaras e poster. A melhor parte é ser surpreendido por sua monosombrancelha quando buscam seu nome para saciar a curiosidade. Quem é esta grande mulher? A resenha de hoje é sobre um dos meus xodós, uma edição especial para lá de impactante de uma das mais importantes pintoras mexicanas do século XX.
O livro apresentado hoje está mais para uma grande reunião de sentimentos e arte do que uma bibliografia. Na verdade, ele não é em nada uma bibliografia e por isto, ao descrever para vocês o que encontrarão nele, darei uma palhinha sobre sua vida e arte.
A obra de hoje é comovente e te levará aos mais íntimos dos sentimentos vividos por Frida em seus últimos dez anos de vida. Um livro para ser sentido em detalhes e contemplado em suas cores.
O  diário de Frida Kahlo – Um autorretrato íntimo (por Frida Kahlo)


Autor: Frida Kahlo
Tradução: Mário Pontes
Editora: José Olympio
Páginas: 280
Preço: R$87,00 – 125,00
Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, ou mais conhecida como Krida Kahlo, nasceu em 06 de julho de 1907 na cidade de Coyoacán no México. Frida é relatada como uma das mais importantes pintoras mexicanas e sua arte é conhecida mundialmente. Colocada como uma pintora surrealista – do qual ela negou enquanto viva – suas obras carregam detalhes de sua vida e dor e por este motivo ela não considerava este seu estilo, pois ela não pintava fantasias e sim sua realidade.
“Eu nunca pinto sonhos ou pesadelos. Pinto a minha própria realidade.”
Este ano Frida completaria 108 anos, esta mulher que grandemente inspira todos nós. Eu como grande amante e consumista não pude perder a oportunidade de adquirir este livro que ganhou uma reedição de luxo em 2013, que adquiri com grande euforia no mesmo ano – e em uma promoção devido ao seu preço salgado no lançamento. Originalmente lançado em 1994 e por muitos anos fora do catalogo, a editora aqueceu nossos corações com uma nova edição para lá de especial a três anos atrás.
Em capa dura e de cores fortes e vivas, a obra traz a reprodução fiel das páginas do diário escritas entre 1944 e 1954. Nas páginas, anotações de suas angustias quanto a vida e de sua condição enferma. Traz passagens políticas e sua relação conturbada com “o grande amor de sua vida”. Na verdade,
declarações de seu amor por Diego Rivera são comuns em seu diário.



Imagem presente no livro


Imagem presente no livro
Diego e Frida casaram em 1929 e em 1939 divorciaram-se. Mesmo assim, ambos nunca cortaram laços e mantiveram uma relação até Frida perecer. Após seu divórcio, sua vida foi marcada pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas. Para si, era uma forma de aliviar suas dores físicas e pessoais.
“Bebi porque queria afogar minhas mágoas, mas agora as coisas malditas aprenderam a nadar”.
Sua arte foi fortemente influenciada por suas enfermidades que lhe causavam dores contínuas. Seus problemas de saúde iniciaram-se ainda quando pequena ao contrair poliomielite, deixando como consequência seu pé esquerdo lesionado. Já aos 18 anos sofreu um grave acidente e sua vida nunca mais seria a mesma. Frida teve múltiplas fraturas e passaria ao longo de sua vida por 35 cirurgias, sendo obrigada a ficar acamada por longos períodos e a usar a corpetes para a coluna inteiramente de ferro. Para passar o tempo começou a pintar retratando seus dias, sentimentos e principalmente suas agonias.
Seu amor por Diego é escrito de várias formas: ora amor que transborda, ora tristeza com suas infidelidades e principalmente pela sua incapacidade de gerar um filho devido aos problemas de saúde. No decorrer de sua via, ela sofreu três abortos.
“A pintura tem ocupado minha vida. Perdi três filhos e uma série de coisas que poderiam ter preenchido a minha vida horrível. A pintura substituiu tudo. Eu acho que não há nada melhor do que trabalhar. “

Frida Kahlo
Frida faleceu em 13 de julho de 1954, aos 47 anos, após uma grave pneumonia que desencadeou uma embolia pulmonar. Muitos acreditam que ela se suicidou, devido a última passagem escrita em seu diário antes de morrer. “Espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais”. Passagem que você encontra na última página do livro em questão.
Após a apresentação fidedigna dos 10 últimos anos de sua vida, o livro tem em seguida todas as páginas novamente em preto e branco e em miniaturas, tendo logo abaixo a tradução de suas divagações e nomes de seus desenhos. Por estarem escritos ao que parece em sua grande maioria tinta, muitas de suas passagens não são legíveis, dificultando ainda mais o fato de estar em espanhol – não, não é tão simples assim entender.
Para finalizar o livro, é contada sua vida em uma linha do tempo cronológica. Dando ao leitor o toque final que precisava para compreender como um todo seu desabafo e a arte presente em seu diário. É com certeza uma obra que nos enriquece culturalmente falando, além de embelezar sua estante.
Esta edição de luxo é para os amantes de Frida Kahlo, aos que se inspiram em sua força, arte e vida. Uma mulher que amava sua cultura e vestia-se de forma única e além de seu tempo. E não só apenas aos que a idolatram, mas, também para aqueles que sempre estão abertos para novas experiências literárias.

Capa da Vogue Mexicana em 2012
Obs.:
  1. O Natal já passou, porém presentear alguém com uma edição de luxo é um presentão mesmo que atrasado.
  2. Em 2012, a Vogue México estampou Frida Kahlo em sua capa. Mesmo após 60 anos de sua morte, ela é referência na criação de suas roupas e de estilo. Acabei não citando muito este tema, mas caso tenho curiosidade, uma palhinha: ela estava muito afrente de seu tempo, suas roupas traziam o orgulho de sua cultura e por muitas vezes usava peças sem se importar com o gênero delas.
  3. Diego Rivera impôs 15 anos de sigilo para os pertencer do casal. Após sua morte, a colecionadora de arte Dolores Olmedo se recusou a expor às peças mesmo passados os 15 anos pedido por Rivera. Recusa estendida até para o Museu Frida Kahlo. Somente após a morte da colecionadora, pertences, objetos e roupas entraram em exposição. Peças nunca vista antes por qualquer público.
  4. Os quadros de Frida sempre bateram recordes em leilões.
  5. A exposição Frida Kahlo passou pelo Brasil em 2014.
Texto originalmente escrito para Immagine

Nenhum comentário: