quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Todo e qualquer momento revolucionário que tenho na vida acontece nos lugares menos poéticos

Texto originalmente escrito para Immagine
Comecei 2017 pensando¹: “Poxa, quais livros que o pessoal irá gostar de ver aqui? Qual estilo amam mais? Será que estão curtindo? Esta contribuição os faz vir até aqui só para conferir a coluna? Quantos textos preciso produzir para ficar tranquila alguns dias? Será que vou passar todos os feriados até abril trabalhando de novo? Qual é o horário da minha tutoria mesmo? Preciso terminar aquele curso do terceiro setor… Putz, trinquei meu relógio de pulso, vou ter que acordar amanhã cedo e ir no centro. Affs”.
E assim terminei minha última semana de janeiro, julgo, última semana de férias da Immagine e a primeira semana no meu trabalho formal. Depois de vários dias fora e de cabeça para a lua parece que perdemos a conjuntura e o ritmo.
Olhar o calendário já me proporcionava algum tipo de gastura. Fixada nas datas e prazos, tentava visualizar o que será da minha vida uma vez que calculo tudo em horas. Horas que preciso para isso, horas que gastarei para fazer aquilo e, como encaixarei tantos compromissos, desejos e sonhos em míseras dezesseis horas diárias².
E assim, em meio a uma crise do que fazer primeiro que cheguei ao nosso livro desta semana, um livro repleto de crises:
Tá todo mundo mal – O livro das crises
Autor: Julia Tolezano da Veiga Faria
Editora: Companhia das letras
Páginas: 196
Preço: R$16 – 30,00

Julia Tolezano da Veiga Faria nasceu em 1991, em Niterói, Rio de Janeiro. Fez jornalismo na PUC-RJ e alguns outros cursos brevemente com a desculpa de que “ser criativa e gostar de escrever eram boas justificativas para fazer mais um curso do qual ‘ela’ não gostava”. Apresento a vocês, Jout Jout, prazer.
Algumas ressalvas precisam ser colocadas sobre esta leitura:
  1. Para quem é chegado em crônicas.
  2. Aos que estão procurando de uma leitura leve. Muito. Leve.
  3. Ou aqueles que desejam iniciar 2017 com estilos literários novos.
O livro ‘Tá todo mundo mal’ é mais um livro de crônicas como tantos outros que existem por aí. Escrever que ele possui algo grande e avassalador, diferente de todos os outros que li seria uma grande mentira. Quero ser sincera com vocês. O que me fez traze-lo hoje aqui foi meu simples gosto pessoal. Eu gostei dele. E ponto.
Acredito que a leveza de como escreveu sobre alguns assuntos ‘meio tabus’ tornou a leitura engraçada ao mesmo tempo que te mostra o quanto temos padrões pré estabelecidos nas pessoas e suas decisões.
“… Eis que chegamos no sensível ponto que afeta toda pessoa que gosta de alguém do mesmo gênero que é: a lenda de que essas pessoas se atiram em qualquer ser do mesmo sexo para fazer um sexo gostoso no meio da rua, sendo esta vitima gay ou não. Uma lenda, claro…  Ela mostra toda sua revolta com a suposição de que ela iria se interessar por qualquer mulher que cruzasse seu caminho. No final de seu discurso, fala: – Você acha que eu vou olhar para a sua mãe e ficar (insira aqui uma simulação de siririca bem enfática). Nós rimos por duas horas. ”
Como todos os livros de crônicas, as histórias escritas por Jout Jout são sobre algum momento de sua vida desde adolescente até a fase adulta. O comum entre todas elas é o que se espera de um livro neste formato: o aprendizado. E são estes aprendizados e total sinceridade sobre os fatos e sentimentos que me fez criar um amorzinho por esta obra. E quem sabe, desejar que mais adiante ela continue a escrever.

O título de todas elas começam com “a crise”. E assim temos 46 crises, das mais diversas tolas problematizadas até a questões um tanto sérias-‘inhas’ – inhas para deixar claro que não será seu livro psicólogo – o livro mantém a leveza em meio a passagens que te tira sorrisos de canto de boca até aquele riso que sai meio que pelo nariz.
Temos ‘a crise de quando fui cadeira’, ‘a crise da ausência de talentos’, ‘a crise do agora não dá’ e ‘a crise de não saber lidar com a morte’ que é tão direto como deve ser: morte é foda. Pensando em como eu poderia escrever sobre ‘a crise da liberdade tardia’ chego à conclusão que todas nós – mulheres – estamos presas eternamente em um ciclo vicioso de nos esconder. O prazer de uma libertação tardia quanto ao nosso corpo é revelador.
“… Pensei em todas as vezes que peguei um casaco, uma manta, um cachecol ou qualquer pano que estivesse à mão para poupar o mundo das minhas celulites… Pensei em como passei pelo menos dez anos repetindo este movimento… É engraçado como chegamos a conclusões muito diferentes quando questionamos um costume que já está arraigado em nossas entranhas. ”
Ou ‘a crise de ausência de talentos’. Quem nunca se viu rodeadas de amigos cheios de vocações extraordinárias – ao menos para você – e se sentiu o cocô do cavalo do figurante? É… Uma comparação amigável do que você sabe fazer versus o que seus amigos sabem fazer já é um motivo de crise. 
“A questão é que, enquanto todo mundo parecia ter uma verdadeira vocação, ou pelo menos alguma facilidade para alguma coisa, eu me via em frente a um computador assistindo séries sem fim para esquecer o fato de que eu não tinha vocações”.
E assim, o livro Tá todo mundo mal vai te apresentando as neuras de uma pessoa em seu cotidiano tirando grandes sacadas delas, ou não tão grandes assim, fazendo na mesma proporção refletir sobre detalhes miúdos que de alguma forma te moldaram ao que és hoje.


Com menos de 200 páginas, a leitura é rápida, gostosa e na maioria das vezes engraçada. Você não encontrará aqui crônicas profundas e cheias de incógnitas. É para dias leves. É para sair do cotidiano. Mudar um pouco o rumo das coisas.
Obs.:
¹ Quando se está de férias no mês de janeiro, o ano só começa após o término da mesma. E o relógio foi para cirurgia.
² Nem vem questionar minhas oito horas de sono.
³ Entrei em crise sobre a minha profissão enquanto devorava o livro. No fim, não passou de um: será que é isso mesmo que eu quero? O bom é que a resposta foi afirmativa e tudo voltou a ficar ok. Como escreveu Jout Jout “talvez – e Deus queira que sim – esse tabu só esteja na minha cabeça”.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A mí, las alas me sobram

Você provavelmente já deve ter ouvido falar dela, passado por algum de seus poemas célebres, visto seu rosto estampado em camisetas, xícaras e poster. A melhor parte é ser surpreendido por sua monosombrancelha quando buscam seu nome para saciar a curiosidade. Quem é esta grande mulher? A resenha de hoje é sobre um dos meus xodós, uma edição especial para lá de impactante de uma das mais importantes pintoras mexicanas do século XX.
O livro apresentado hoje está mais para uma grande reunião de sentimentos e arte do que uma bibliografia. Na verdade, ele não é em nada uma bibliografia e por isto, ao descrever para vocês o que encontrarão nele, darei uma palhinha sobre sua vida e arte.
A obra de hoje é comovente e te levará aos mais íntimos dos sentimentos vividos por Frida em seus últimos dez anos de vida. Um livro para ser sentido em detalhes e contemplado em suas cores.
O  diário de Frida Kahlo – Um autorretrato íntimo (por Frida Kahlo)


Autor: Frida Kahlo
Tradução: Mário Pontes
Editora: José Olympio
Páginas: 280
Preço: R$87,00 – 125,00
Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, ou mais conhecida como Krida Kahlo, nasceu em 06 de julho de 1907 na cidade de Coyoacán no México. Frida é relatada como uma das mais importantes pintoras mexicanas e sua arte é conhecida mundialmente. Colocada como uma pintora surrealista – do qual ela negou enquanto viva – suas obras carregam detalhes de sua vida e dor e por este motivo ela não considerava este seu estilo, pois ela não pintava fantasias e sim sua realidade.
“Eu nunca pinto sonhos ou pesadelos. Pinto a minha própria realidade.”
Este ano Frida completaria 108 anos, esta mulher que grandemente inspira todos nós. Eu como grande amante e consumista não pude perder a oportunidade de adquirir este livro que ganhou uma reedição de luxo em 2013, que adquiri com grande euforia no mesmo ano – e em uma promoção devido ao seu preço salgado no lançamento. Originalmente lançado em 1994 e por muitos anos fora do catalogo, a editora aqueceu nossos corações com uma nova edição para lá de especial a três anos atrás.
Em capa dura e de cores fortes e vivas, a obra traz a reprodução fiel das páginas do diário escritas entre 1944 e 1954. Nas páginas, anotações de suas angustias quanto a vida e de sua condição enferma. Traz passagens políticas e sua relação conturbada com “o grande amor de sua vida”. Na verdade,
declarações de seu amor por Diego Rivera são comuns em seu diário.



Imagem presente no livro


Imagem presente no livro
Diego e Frida casaram em 1929 e em 1939 divorciaram-se. Mesmo assim, ambos nunca cortaram laços e mantiveram uma relação até Frida perecer. Após seu divórcio, sua vida foi marcada pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas. Para si, era uma forma de aliviar suas dores físicas e pessoais.
“Bebi porque queria afogar minhas mágoas, mas agora as coisas malditas aprenderam a nadar”.
Sua arte foi fortemente influenciada por suas enfermidades que lhe causavam dores contínuas. Seus problemas de saúde iniciaram-se ainda quando pequena ao contrair poliomielite, deixando como consequência seu pé esquerdo lesionado. Já aos 18 anos sofreu um grave acidente e sua vida nunca mais seria a mesma. Frida teve múltiplas fraturas e passaria ao longo de sua vida por 35 cirurgias, sendo obrigada a ficar acamada por longos períodos e a usar a corpetes para a coluna inteiramente de ferro. Para passar o tempo começou a pintar retratando seus dias, sentimentos e principalmente suas agonias.
Seu amor por Diego é escrito de várias formas: ora amor que transborda, ora tristeza com suas infidelidades e principalmente pela sua incapacidade de gerar um filho devido aos problemas de saúde. No decorrer de sua via, ela sofreu três abortos.
“A pintura tem ocupado minha vida. Perdi três filhos e uma série de coisas que poderiam ter preenchido a minha vida horrível. A pintura substituiu tudo. Eu acho que não há nada melhor do que trabalhar. “

Frida Kahlo
Frida faleceu em 13 de julho de 1954, aos 47 anos, após uma grave pneumonia que desencadeou uma embolia pulmonar. Muitos acreditam que ela se suicidou, devido a última passagem escrita em seu diário antes de morrer. “Espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais”. Passagem que você encontra na última página do livro em questão.
Após a apresentação fidedigna dos 10 últimos anos de sua vida, o livro tem em seguida todas as páginas novamente em preto e branco e em miniaturas, tendo logo abaixo a tradução de suas divagações e nomes de seus desenhos. Por estarem escritos ao que parece em sua grande maioria tinta, muitas de suas passagens não são legíveis, dificultando ainda mais o fato de estar em espanhol – não, não é tão simples assim entender.
Para finalizar o livro, é contada sua vida em uma linha do tempo cronológica. Dando ao leitor o toque final que precisava para compreender como um todo seu desabafo e a arte presente em seu diário. É com certeza uma obra que nos enriquece culturalmente falando, além de embelezar sua estante.
Esta edição de luxo é para os amantes de Frida Kahlo, aos que se inspiram em sua força, arte e vida. Uma mulher que amava sua cultura e vestia-se de forma única e além de seu tempo. E não só apenas aos que a idolatram, mas, também para aqueles que sempre estão abertos para novas experiências literárias.

Capa da Vogue Mexicana em 2012
Obs.:
  1. O Natal já passou, porém presentear alguém com uma edição de luxo é um presentão mesmo que atrasado.
  2. Em 2012, a Vogue México estampou Frida Kahlo em sua capa. Mesmo após 60 anos de sua morte, ela é referência na criação de suas roupas e de estilo. Acabei não citando muito este tema, mas caso tenho curiosidade, uma palhinha: ela estava muito afrente de seu tempo, suas roupas traziam o orgulho de sua cultura e por muitas vezes usava peças sem se importar com o gênero delas.
  3. Diego Rivera impôs 15 anos de sigilo para os pertencer do casal. Após sua morte, a colecionadora de arte Dolores Olmedo se recusou a expor às peças mesmo passados os 15 anos pedido por Rivera. Recusa estendida até para o Museu Frida Kahlo. Somente após a morte da colecionadora, pertences, objetos e roupas entraram em exposição. Peças nunca vista antes por qualquer público.
  4. Os quadros de Frida sempre bateram recordes em leilões.
  5. A exposição Frida Kahlo passou pelo Brasil em 2014.
Texto originalmente escrito para Immagine

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O mundo é apenas um lugar estranho

Um dos livros que mais me tocou em 2016 é um livro tímido, pouco conhecido em comparação com outros nomes que retratam o mesmo período e, para mim, muito mais ricos em detalhes daquilo que não podemos esquecer.
O diário de Helga – O relato de uma menina sobre a vida em um campo de concentração


Autor: Helga Weiss
Editora: Intrínseca
Tradução: George Schlesinger
Páginas: 256
Gênero: Não Ficção
Preço: R$25 – 40,00

Helga Weiss nasceu no ano de 1929 em Praga. Filha de um bancário e de uma costureira, começou a escrever em seu diário a vida que começava a ser assombrada pela ocupação nazista. Um dos primeiros atos foi a perda de emprego de seu pai, depois a identificação e segregação, sua expulsão da escola e por último o transporte de sua família para Terezin.
Apesar do diário ser iniciado quando criança (8 anos) e ao fim da Segunda Guerra Mundial ela ser uma adolescente (15 anos), você não encontra traços tão infantis nas passagens como no Diário de Anne Franke. Lançado em 2013, o diário foi revisado pela própria Helga com o intuito de manter a autenticidade e a forma da narrativa.
Helga Weiss
Helga transparece sua angustia em ver seus amigos e parentes, um por um, entrarem no chamado transporte. Em alguns momentos deseja que sua família seja convocada logo para que possa reencontrar aqueles que ama.  Trechos que quando li me apertava o coração, mal ela sabia o que os esperavam.
Contendo informações complementares (encontradas no sumário ao fim do livro), os termos em alemão, lugares e apelidos são explicados. Tradições judaicas e o processo interno “das burocracias” são claramente apresentados ao leitor. Das 15 mil crianças que passaram por Terezin, apenas 100 das transportadas para Auschwitz sobreviveram. Helga, é de fato uma sobrevivente.
O que eu não sabia sobre o pós-guerra foi a forma que mundo lidou com o que acharam nos campos de concentração. Relatado na entrevista – exposta após o diário – Helga conta como foram os anos subsequentes ao Holocausto. As nações simplesmente fecharam os olhos para aquele horror. Só após muitos anos reconheceram a proporção do ódio levantado contra os judeus e demais perseguidos.
“[…] Muitos – não, certamente todos – estão chorando em silêncio, mas nós não demonstramos nossas emoções. Para que dar esse prazer aos alemães? Jamais! Temos força para nos controlar. Ou deveríamos nos envergonhar da nossa aparência? Das estrelas? Dos números? Não, não é culpa nossa, alguém se envergonhará por isto. O mundo é apenas um lugar estranho.” Pág. 63
As privações de sono, alimentos, roupas e o trabalho excessivo está exposto. Quem pode viver com 300 gramas de pão a cada dois, três dias? Eram forçados a ficarem de 2 a 5 horas em pé ora no sol escaldante, ora nos horários em que o inverno mais castigava para contagem dos grupos e identificar fugitivos. Conferência que não duraria normalmente nem 20 minutos.
Helga conta em seu diário as incertezas que viveram a cada dia, tanto sobre o fim da guerra quanto aos boatos de grandes fornos e câmaras de gás. Durante anos eles não sabiam o que lhes aconteceriam no dia do amanhã e a cada transporte, Helga escrevia frases transparecendo que não acreditava que “desta vez sobreviveria”.
O relato de uma criança que vê fileiras de pessoas sendo levadas para lugares do campo de concentração do qual nunca retornam – apenas uma fumaça ao fundo – só não te choca mais porque, de fato, Helga não entendia o que estava acontecendo e isto você percebe muito bem conforme a leitura se desenrola.

Crianças polonesas que Helga viu quando estava em Terezin. De lá foram levadas para Auschwitz e mortas na câmara de gás
Esta é mais uma leitura que te enriquece culturalmente. Conhecer o sentimento e as experiências de pessoas que vivenciaram este período para mim, como ser humano. Há uma passagem em que Helga vê seu reflexo e não se reconhece. Ossos do rosto e do corpo tão escancarados devido a sua magreza que não se vê como uma pessoa, é uma sombra muito distante de um ser humano.
“[…] o que essas… pessoas?… passaram? Sim, já foram pessoas um dia. Saudáveis, fortes, com vontade e pensamentos próprios, com sentimentos, interesses e amor. Amor pela vida, pelas coisas boas, pela beleza, com fé num amanhã melhor. O que resta são fantasmas, corpos, esqueletos sem altas.” Pág. 189
Agora, se você procura uma leitura sobre o holocausto que aborde cronologicamente fatos históricos e que contenha riqueza de detalhes sobre o período, este livro não é para você. Neste livro você irá encontrar a trajetória de uma família em Terezin e ao fim, de uma mãe e sua filha que fazem de tudo para sobreviver a Auschwitz, Freiberg e por último a marcha da morte de 16 dias para o campo de Mauthausen.
Nesta edição que apresento a vocês encontrarão ainda fotos da família, desenhos de Helga e documentos da época. Helga Weiss e sua família foram levados em 4 de dezembro 1941. Ela e sua mãe foram libertadas em 5 de maio de 1945.
Helga atualmente mora em Praga e no mesmo apartamento que sua família morava. Hoje ela está com 87 anos e é reconhecida mundialmente por sua arte e história de vida.
Instagram: @cbredlich
Texto originalmente escrito para Immagine

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Olhe para o horizonte e pense em tudo de bom que está por vir

Reparei hoje que a grande maioria dos livros que indiquei aqui na coluna são leituras fortes, policial, thriller ou que trouxeram situações da sociedade para o livro com muita realidade. Algumas até fortes demais. Então para tirar este shade pesado daqui, apesar de serem ótimas leituras, hoje decidi escrever sobre um título tão fofo e tão leve que não tem como não criar um amorzinho por ele.
Coisas bem legais para ser muito feliz

Autor: Mr. Wonderful
Tradução: Rita Fazenda
Editora: L&PM Editores
Páginas: 148
Gênero: Autoajuda, humor
R$: 29,00 – 49,00
Quem é o Mr. Wondeful (Senhor Maravilhoso) para começo de conversa? Esta foi a primeira coisa que pesquisei e descobri que o codinome maravilhoso (né, haha) representa um casal que sempre trabalharam com design e publicidade. Após alguns anos desenvolvendo trabalhos juntos decidiram criar algo diferente, diferente até para suas vidas e foi assim que nasceu o “Mr. Wonderful – diseño gráfico para gente no aburrida”. Em uma tradução livre “estúdio gráfico para gente que não é chata”. Ai-meu-Deus-que-amor! Tem tanta gente chata neste mundo que só este complemento fisgou meu coração de leitora curiosa.
Mas o que eu vou encontrar neste livro, Carol?
  1. O sorriso frouxo ao fim daquele dia de cão;
  2. 10 capítulos sobre assuntos específicos;
  3. Reflexões leves e gostosinhas. Nada de queimar os neurônios com grandes indagações;
  4. Adesivos <3
  5. Aceitação sobre nossos defeitos;
  6. Wondersonselhos para recortar (como eles mesmo descreve a obra);
  7. Um leitura rápida e que te revitaliza

Imagem Instagram @cbredlich
~ Ain mas é autoajuda. Odeio livros autoajuda ~. Amigo, você odeia a ideia de ler um livro dito como gênero autoajuda e gostar, isso sim. Vamos deixar de lado os nossos preconceitos de gêneros literários pois já pulamos esta etapa.
Além de algumas páginas aleatórias de adesivos do qual, é muito importante ressaltar, não tive coragem de um sequer! Sua leitura corre de forma natural e rápida, e será sua fonte de momentos de alegrias, uma dose de UP que você precisa.
Sorria mais e queixe-se menos, até para o chato do seu chefe”.
Cheio de mensagens carinhosas, esta dica não é apenas mais uma leitura, será um exemplar eterno. Senti muito claramente que o objetivo dos criadores era dele ser um livro pau para toda obra. Para ser carregado, foleado, revisto, recortado, emprestado inúmeras vezes. A experiência não é única, é para ser revivido todas as vezes que sentir-se meio desanimado e descobrir como uma eterna criança que precisamos de muito, muito pouco para sermos felizes.

Imagem Instagram @cbredlich
Este livro que esta mais para uma dose cavalar de amor em forma de folhas é perfeito para você: adolescente, adulto ou idoso. É perfeito para presentear! Todos deveriam ter a oportunidade de ler a dica de hoje, este singelo título que muitos nem prezam um olhar de canto de olho na livraria.
Eu comprei ele na internet e não me recordo o site especificamente, mas algo ficou em minha memória. Foi naqueles dias de procura de livros lindos e de enredos leves porque eu precisava deste sentimento. Desta carga emocional gostosa de se sentir. Uma leitura que acalma.
É bom para nós – integrantes de uma sociedade que neste momento não nos enche de orgulho – ler algo que alimente a esperança em si e nos dias. E de uma forma muito clichê ler que tudo ficará bem, é bom. Não há dúvidas que muitos sentem-se desconfortáveis com qualquer capa mais piegas, porém, abra o seu coração e não resista ao Sr. Maravilhoso.
Obs.: Um trecho muito válido: Uma das coisas mais difíceis na vida é a gente se aceitar como a gente é. Há quem seja mais baixo ou mais alto. Há quem esteja sempre de bom humor e há os resmunguentos. Você é como é, mais gordinho do que quem está à sua direita, mas mais alto do que quem está à sua esquerda. Não vale a pensa perder tempo pensando como você seria se fosse outra pessoa”.

Texto originalmente escrito para Immagine

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A vingança é um motivo poderoso

Hoje vou trazer para vocês uma das trilogias que mais amo de paixão da minha minibiblioteca pessoal – que nem é tão pequena assim – de quase cem títulos. E não, não empresto. #tiraamãodosmeuslivros!
Quer ver uma pessoa enlouquecer é mexer sem permissão nos meus filhos, rsrs.
Falando em biblioteca, hoje quase comprei quatro livros na Amazon! Porém eu tenho na faixa de dez livros ainda na lista de espera e PRE-CI-SO evitar o consumismo. Para livros gente, eu sou terrível.
Voltando a trilogia, esta foi uma compra após ver o filme, algo que faço muito raramente. Geralmente é sempre ao contrário, eu procuro ler o livro antes do filme. De vez em quando Hollywood acerta nas adaptações e ficam tão boas que te instiga a ler o livro. ABRE ASPAS – O que parece que não foi o caso de “O orfanato da Srta. Peregrine para crianças peculiares”. Li críticas ferozes para com Tim Burton com relação ao filme. Ao que parece ele cagou errou e errou rude com a adaptação, transformou a maça em uma banana de tantas alterações. Eu, claro, fugi dos cinemas pois meu exemplar está lá lindinho esperando sua vez para ser lido – FECHA ASPAS.
Vamos à resenha da Trilogia Millenium!
Autor: Stieg Larsson
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção
Preço: R$86 – 110,00

Como o próprio nome já diz, este thriller é composto por três livros¹ – nada pequenos – escritos por Stieg Larsson. São eles: Os homens que não amavam as mulheres, A menina que brincava com fogo e A rainha do castelo de ar, nesta sequência de ordem.
Todos os três livros são grandes e estão acima de 500 páginas. Leitura longa – a depender do seu tempo – mas com toda certeza merecem a sua atenção. Eu particularmente demorei dois anos para finalizar os três, pois intercalava outros livros menores entre as leituras. O primeiro – Os homens que não amavam as mulheres – li em dez dias na minha penúltima viagem ao Rio Grande. Casa de vó, sem grandes movimentações, tempo livre de sobra e sem sky hahaha, então entre um chimarrão e outro a leitura preencheu as horas.
Como cada livro possui uma história isolada e ao todo os três livros estão interligados por um enredo maior, Salander e sua história familiar. Uma levou a outra basicamente e isto foi uma das coisas que mais achei interessante. O livro dois se inicia exatamente aonde o primeiro encerrou e consecutivamente esta linha permanece no terceiro livro com relação ao segundo.
Os personagens principais foram construídos de tal forma que não tem como não se prender ao enredo que se desenrola – Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander – ele jornalista e ela um hacker.
A história se passa na Suécia e aborda de forma muito real sua realidade dos crimes: Abusos físicos, estupros, tráfico de mulheres, crimes financeiros, corrupção nos mais altos escalões e para fechar com chave de ouro esta trilogia policial, um serial killer.
O livro um já foi adaptado ao cinema. Lançado em 2011 sob o título de The girl with the dragon tattoo, o filme conta com Daniel Craig (Mikael) e Rooney Mara (Lisbeth) no elenco. Eu particularmente achei ele absurdamente bom, permaneceu no enredo original do livro em 90% das situações, trazendo com muita realidade as passagens mais fortes do livro. Sua maior diferença é com relação ao desfecho. O filme arrecadou mais de 200 milhões de dólares e foi muito bem recebido pela crítica. Ficou entre os cem melhores filmes do ano, foi indicado aos prêmios Globo de Ouro e aos Oscar de melhor atriz para Rooney Mara (que achei super injusto não ter ganhado), Melhor fotografia, Melhor edição de som, Melhor mixagem de som  e recebeu o Oscar de melhor edição.
Infelizmente, não há chances de rodar os dois últimos filmes para fechar a trilogia. Esta notícia saiu no início do ano de 2015 e deixou todos os fãs de coração partido. Já ao fim do ano, com o lançamento do quarto livro, retornou os rumores de retomarem o projeto, porém sem os atores Daniel Craig e Rooney Mara. Por hora, aguardamos.
Mas Hollywood não foi o primeiro a colocar os olhos nesta trilogia que faz até hoje muito sucesso. Já existia três filmes, um para cada livro, adaptado pela companhia sueca Yellow Bird e lançados todos em 2009. Se pensam que só Hollywood faz filmes bons, se enganam. A versão sueca do primeiro livro ganhou em 2011 British Academy Film Awards na categoria Melhor filme em língua não inglesa.

Esta cena da versão hollywoodiana é uma das mais fortes, principalmente as que antecedem alguns minutos. No livro esta passagem se desenrola com tanta realidade que é praticamente impossível não sentir aflição.
Não é terror, mas há o sentimento de horror nos três livros por toda uma teia de corrupção que se iniciou muito antes (cronologicamente) dos fatos do primeiro livro, história aprofundada posteriormente no livro dois. Nenhum segredo está bem guardado e como um próprio trecho dos pensamentos de Salander diz: “Não existem inocentes. Só existem diferentes graus de responsabilidade”.
Stieg nos apresenta com muita facilidade que família não é sinônimo de amor mutuo, e sim por muitas vezes de ódios reprimidos, magoas, abusos e poder. Em alguns casos, a ligação paternal com uma criança significa mais um problema a ser resolvido. E mais uma vez vemos que nada são flores e que optar em não fazer nada é ser coautor da violência.
Os personagens principais se envolvem mas se você aguarda um romance ao meio de tantos mistérios, este box não é para você. Esta trilogia em nenhum momento parte para o apelo emocional envolvendo amor. Há muitos relacionamentos rasos, até casamentos com sua política peculiar de ser “aberto” apenas a uma pessoa, mas nada de um grande amor que desperta e cresce.
Mas para você não ficar tão perdido sobre cada livro, vou replicar de forma bem resumida o que você pode esperar nesta leitura:
Os homens que não amavam as mulheres – Em cima cidade do interior da Suécia há um grande mistério que perdura a mais de 40 anos. O sumiço de Harriet Vanger durante o encontro anual da família não só marcou a cidade, assim como o declínio dos Vanger emocionalmente e financeiramente e, assombra até hoje o patriarca da família, Henrik, que acredita fervorosamente que foi alguém da família. Ao longo dos anos nada foi descoberto, nem seu paradeiro e nem um corpo para ser velado. Permanece apenas os presentes que Henrik recebe fielmente em seu aniversário, uma flor emoldurada, o mesmo que Herriet o presenteava todos os anos antes de desaparecer.
Para desvendar este mistério, Henrik contrata o jornalista Mikael Blomkvist. Mikael acaba de ser julgado como culpado por difamação contra Wennerström, um financista, após uma matéria investigativa contra crimes financeiros publicada na revista Millenium. Como um dos sócios, esta preocupado com o futuro da mesma, além de sua credibilidade afetada após o julgamento. Como forma de convencimento para aceitar o trabalho, Henrik promete proteção a Millenium e provas contra Wennerström.
Neste contexto, Mikael se insere profundamente na família Vanger e logo percebe que não é bem-vindo. Para auxilia-lo nesta busca ele conta com a ajuda de Lisbeth Salander, uma mulher inteligente, incomum, problemática e que possui muitos segredos. A busca expõe toda uma geração e desvenda que a crueldade dos Vanger antecede em muitos anos o sumiço de Harriet e, permanece até os dias atuais.
A menina que brincava com fogo – Lisbeth desapareceu e cortou todo e qualquer contato que poderia ter com Mikael. Sem saber que sua vingança particular (primeiro livro) despertou o interesse de pessoas muito poderosas, Lisbeth tenta retornar a sua vida solitária. Mas o fato de estar viva não só perturba seu ex tutor, mas também pessoas do seu passado. Segredos tão bem enterrados que nem ela sabia da sua existência. Não é só problema do Estado uma criança órfã e violenta, criada de lar em lar até sua fase adulta. A incompetência do Poder Público vai além da negligencia em seu caso, envolve a podridão humana e desmascara que ninguém nunca a ajudou, apenas a esconderam e a aniquilaram da sociedade para que junto com ela morresse toda uma rede de mentiras.
Tráfico de mulheres, violência doméstica e crimes de guerras são apenas o começo deste novo mistério de Salander tem que desvendar. Acusada por três assassinatos, Lisbeth precisa correr contra o tempo para entender os motivos de a incriminarem, o que há em seu passado de tão obscuro que até ela desconhece? Enquanto isso, Mikael segue seus passos para encontrá-la antes da polícia ou dos bandidos.
A rainha do castelo de ar – no terceiro e último livro, uma grande parte dos mistérios que envolve seu passado já foram desmascarados e agora estão todos expostos. Agora Lisbeth precisa provar sua inocência para o júri de uma sociedade machista e cheia de conclusões precipitadas de que ela é uma louca psicopata, um perigo a sociedade.
Com a ajuda de Mikael Blomkvist e sua irmã, Annika Giannini, advogada especializada em violência contra a mulher; Lisbeth está em boas mãos. Mas os segredos de sua vida ainda continuam nebulosos e Lisbeth não quer usar aquilo que a mais machuca para provar sua inocência.
O desfecho desta história apresenta a corrupção ativa de um Estado que possuí em suas raízes crimes sexuais e tráfico de mulheres. O thriller policial se encerra de forma surpreendente.
Foto divulgação do filme no E.U.A. No Brasil, os mamilos são tampados com o ano do lançamento. Ah, esse Brasil.
E outra coisa interessante, o autor faleceu antes de presenciar o sucesso estrondoso que fez seus três livros e Stieg também foi fundador e editor-chefe da revista sueca Expo, que denunciava grupos neofascistas e racista. Ele também é coautor de Extremhögern, livro que coloca este assunto em evidência. Curiosamente, ele faleceu de ataque cardíaco em sua casa, pouco tempo depois de ter entregado os livros que compõe a trilogia.Este box é um dos meus queridinhos e para quem é apaixonado por ficção e policial é uma ótima pedida. O assunto violência sexual contra as mulheres, tão retratado nos três livros, deve-se ao fato do autor ter presenciado um estupro coletivo de uma garota quando tinha 15 anos. O nome da personagem principal é uma dedicatória a guria que sofreu o ataque, Lisbeth.
Parece muito o personagem Mikael Blomkvist, só que com a infelicidade de morrer, ou ter sido morto. Deixo este mistério no ar.
¹ No ano passado os fãs desta trilogia foram pegos com uma novidade, seria lançado um quarto livro. O autor que recebeu esta baita responsabilidade foi David Lagercrantz e se chamará “A garota na teia de aranha” e já se encontra a venda. O preço do box apresentado não incluí o último livro e para este lançamento foram refeitas as capas dos três primeiros, a faixa de preço é R$230,00 reais.

Texto originalmente escrito para Immagine

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Morte súbita

Recado: Se por acaso você foi da geração Harry Potter, saiba que este livro não tem nada a ver com o gênero. Ok?
O livro desta semana é Morte Súbita, escrito por J.K Rowling.

Autor: J.K. Rowling
Editora: Harper Collins Br
Páginas: 512
Gênero: Romance
Média de preço: 40 – 52,00
Alguns livros nos apresentam uma temática muito próxima do cotidiano e este livro é um deles. Retrata as miudezas do dia-a-dia de uma vila, se assim poderei retratar. Não de um grande amor, romance, história de superação ou algo do tipo; é a falta de caráter mesmo, as mazelas, as picuinhas existentes em nossas relações amorosas e sociais.
Nossos preconceitos são como manchas em camisas brancas. Você lava, lava, esfrega, esfrega e lá estará ela, fraca ou quase removida, mas ainda assim estará lá. E é desta forma que Morte Súbita te insere no cotidiano de uma sociedade cheia de preconceitos e “bons costumes”, com famílias de aparências, relações desastrosas e muitos abusos.
Tudo começa com um pequeno ato, a morte de um personagem ativo desta sociedade. Um homem bom ou cheio de interesses, depende do ponto de vista dos outros moradores que são apresentados no decorrer da leitura. O ponto crucial é o cargo que ocupava que agora está vago. Uma vaga no conselho que muitos desejam por interesses próprios, sejam eles relacionados a vila ou motivados por sentimentos.
Aqui não tem final feliz. Tem a vida escrachada para quem quiser ver. Com uma separação nítida entre os ricos da vila e os pobres da periferia, em cada núcleo temos narrativas fortes e histórias que possuem ligação com o cargo no conselho que está vago. Todos de alguma forma sofreram interferência em suas vidas com a morte repentina do conselheiro e terão ainda mais dependendo de quem ocupará sua vaga.
O jogo de intrigas se aprofunda mostrando que ninguém é perfeito de perto. Uma crítica clara a sociedade que mantemos e que inutilmente desejamos não ver. O livro trata com realidade a violência doméstica que sabemos que existe mas, que nada fazemos. Ao bullying praticado e nunca percebido pelos pais. Automutilação, drogas e introdução ao sexo, tudo em um combo que nem na melhor das hipóteses daria certo. Aos inúmeros abusos sexuais que nunca chegaram as autoridades.
Jovens problemáticos, usuários e solitários. Mães drogadas, mal-amadas, incompreendidas e rancorosas. Esposos infiéis, na inércia da vida e com problemas psicológicos. Pais violentos, manipuladores e desinteressados. Não há família perfeita aqui, há quem consiga melhor esconder seus segredos.
E a vida de aparências, poder, desejo e rancor te leva direto a um fim inesperado. Fim do qual cada um dos personagens poderia ter evitado se parassem de olhar para o próprio umbigo, motivados pelos seus próprios interesses.
Um fim que me fez refletir sobre algo direto: minhas decisões não mudam apenas o curso da minha vida. É como a onda causada por uma pedra jogada no rio, ela se propaga muito além do que imaginamos.
A leitura é longa, afinal são 512 páginas. O início não tem muito desenrolar e possui muita riqueza de detalhes que você não compreende a princípio. Porém, perto da metade da leitura você entende a razão de tantas situações minunciosamente descritas. Eles completam o ciclo e as razões de cada personagem fazer o que fez.
A razão dele ser o segundo livro que eu não esperava o fim é devido ao fato que em nenhum momento a leitura te apresentava sinais de tal desfecho. Imaginei muitos “The End” relacionando a vida dos personagens, as relações mornas, o impacto que todos irão sofrer com o novo conselheiro… Porém, nada se compara ao que – do nada –  se desenrola para o fim.

Texto originalmente publicado em Immagine

terça-feira, 21 de agosto de 2018

As lutas duram o quanto precisar

Imagine um cara com seu apartamento perfeito, móveis de marcas e seus detalhes de decoração milimétricamente pensados em sua necessidade supérflua de consumo. Ele tem um trabalho que não lhe deixa feliz, mas que te traz renda e conforto até que as insônias aparecem. Deseja a cada viagem de trabalho que seu avião caia e termine tudo agora, neste exato segundo. Quão controverso pode ser os sentimentos de uma pessoa?

Eu lhes apresento o personagem principal deste livro que considero surreal. É inteligente e inquieto. Em busca de conforto espiritual e físico que não encontra em sua vida, ele frequenta ativamente grupos de terapia. Que grupos? Deixo para vocês descobrirem.
“Você compra móveis. E pensa, este é o último sofá que vou comprar na vida. Você compra o sofá, e fica satisfeito durante uns dois anos porque, aconteça o que acontecer, ao menos a parte de ter um sofá já foi resolvida. Depois precisa do aparelho de jantar certo. Depois da cama perfeita. De cortinas. E do tapete. Então você fica prisioneiro em seu belo ninho e as coisas que costumavam ser suas agora mandam em você”.

Tudo está indo muito bem para o nosso personagem que se alivia nos braços da terapia até que surge uma nova integrante. Ele sabe que ela não tem os itens indispensáveis para pertencer aquele grupo, assim como ele. Ela o perturba, o deixa desconfortável e sua insônia retorna. Um impostor que não consegue mais chorar e extravasar seus sentimentos na frente de outro impostor. Apresento Marla Singer.

E como uma bomba relógio de sentimentos e necessidade extrema de expor tudo isso ao mundo de alguma forma, ele conhece Tyler Durden tão despretensiosamente como quanto resolvem criar um clube de luta. A maneira ideal de se libertar e viver fora das regras sem sentido impostas pela sociedade. O mundo é melhor quando você mostra o lixo humano que é.
Apresento a vocês a dica desta semana do qual, ao falar dele já estou quebrando sua primeira regra.
A primeira rega do clube da luta é que você não fala sobre o clube da luta”.
Autor: Chuck Palahniuk 
Tradução: Cassius Medauar
Editora: Leya
Páginas: 272
Gênero: Romance

Clube da Luta foi escrito por Chuck Palahniuk lançado originalmente em 1996. Se tem algo que ele te ensina é que só quando se está no fundo do poço é que entendemos o real sentido da vida. Não há como descobrir isso dentro da sua casa perfeita, com seus móveis de marca, suas roupas de grifes e seu carro do ano.
“Durante milhares de anos os humanos foderam, sujaram e fizeram merda com esse planeta, e agora a história espera que eu limpe tudo. Tenho que lavar e amassar as minhas latas de sopa. E dar conta de cada gota de óleo de motor usado. E tenho de pagar a conta do lixo nuclear, tanques de combustível enterrados e terra cheia de lixo tóxico jogado lá uma geração antes de eu nascer.”
A história é violenta, rápida e contada como cenas de um teatro. Cada um individualizado com um grande encaixe. Começa pelo fim e te apresenta a vida de pessoas marginalizadas pelo mundo e o que ele pode fazer com você. Uma sociedade fútil criticada abertamente, cheia de pessoas deprimidas e carentes de atenção. Um livro cheio de frases de efeito e sacadas que são verdadeiros socos na boca do nosso estômago.

"A propaganda faz essas pessoas irem atrás de carros e roupas de que elas não precisam. Gerações têm trabalhado em empregos que odeiam para poder comprar coisas de que realmente não precisam.- Não temos uma grande guerra em nossa geração ou uma grande depressão, mas na verdade temos, sim, é uma grande guerra de espírito. Temos uma grande revolução contra a cultura. A grande depressão é a nossa vida. Temos uma depressão espiritual. ”


Fica difícil falar mais sem dar spoiler, do qual não é a minha intenção. Mas deixo a vocês mais um trecho e uma grande dica de leitura.
Até a próxima!
Obs.: O gênero me deixou desconfortável pois para mim está bem longe de um romance. Entretanto chequei três sites diferentes de livrarias e todos classificaram-no desta forma.

Texto originalmente publicado em Immagine