quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Morte súbita

Recado: Se por acaso você foi da geração Harry Potter, saiba que este livro não tem nada a ver com o gênero. Ok?
O livro desta semana é Morte Súbita, escrito por J.K Rowling.

Autor: J.K. Rowling
Editora: Harper Collins Br
Páginas: 512
Gênero: Romance
Média de preço: 40 – 52,00
Alguns livros nos apresentam uma temática muito próxima do cotidiano e este livro é um deles. Retrata as miudezas do dia-a-dia de uma vila, se assim poderei retratar. Não de um grande amor, romance, história de superação ou algo do tipo; é a falta de caráter mesmo, as mazelas, as picuinhas existentes em nossas relações amorosas e sociais.
Nossos preconceitos são como manchas em camisas brancas. Você lava, lava, esfrega, esfrega e lá estará ela, fraca ou quase removida, mas ainda assim estará lá. E é desta forma que Morte Súbita te insere no cotidiano de uma sociedade cheia de preconceitos e “bons costumes”, com famílias de aparências, relações desastrosas e muitos abusos.
Tudo começa com um pequeno ato, a morte de um personagem ativo desta sociedade. Um homem bom ou cheio de interesses, depende do ponto de vista dos outros moradores que são apresentados no decorrer da leitura. O ponto crucial é o cargo que ocupava que agora está vago. Uma vaga no conselho que muitos desejam por interesses próprios, sejam eles relacionados a vila ou motivados por sentimentos.
Aqui não tem final feliz. Tem a vida escrachada para quem quiser ver. Com uma separação nítida entre os ricos da vila e os pobres da periferia, em cada núcleo temos narrativas fortes e histórias que possuem ligação com o cargo no conselho que está vago. Todos de alguma forma sofreram interferência em suas vidas com a morte repentina do conselheiro e terão ainda mais dependendo de quem ocupará sua vaga.
O jogo de intrigas se aprofunda mostrando que ninguém é perfeito de perto. Uma crítica clara a sociedade que mantemos e que inutilmente desejamos não ver. O livro trata com realidade a violência doméstica que sabemos que existe mas, que nada fazemos. Ao bullying praticado e nunca percebido pelos pais. Automutilação, drogas e introdução ao sexo, tudo em um combo que nem na melhor das hipóteses daria certo. Aos inúmeros abusos sexuais que nunca chegaram as autoridades.
Jovens problemáticos, usuários e solitários. Mães drogadas, mal-amadas, incompreendidas e rancorosas. Esposos infiéis, na inércia da vida e com problemas psicológicos. Pais violentos, manipuladores e desinteressados. Não há família perfeita aqui, há quem consiga melhor esconder seus segredos.
E a vida de aparências, poder, desejo e rancor te leva direto a um fim inesperado. Fim do qual cada um dos personagens poderia ter evitado se parassem de olhar para o próprio umbigo, motivados pelos seus próprios interesses.
Um fim que me fez refletir sobre algo direto: minhas decisões não mudam apenas o curso da minha vida. É como a onda causada por uma pedra jogada no rio, ela se propaga muito além do que imaginamos.
A leitura é longa, afinal são 512 páginas. O início não tem muito desenrolar e possui muita riqueza de detalhes que você não compreende a princípio. Porém, perto da metade da leitura você entende a razão de tantas situações minunciosamente descritas. Eles completam o ciclo e as razões de cada personagem fazer o que fez.
A razão dele ser o segundo livro que eu não esperava o fim é devido ao fato que em nenhum momento a leitura te apresentava sinais de tal desfecho. Imaginei muitos “The End” relacionando a vida dos personagens, as relações mornas, o impacto que todos irão sofrer com o novo conselheiro… Porém, nada se compara ao que – do nada –  se desenrola para o fim.

Texto originalmente publicado em Immagine

terça-feira, 21 de agosto de 2018

As lutas duram o quanto precisar

Imagine um cara com seu apartamento perfeito, móveis de marcas e seus detalhes de decoração milimétricamente pensados em sua necessidade supérflua de consumo. Ele tem um trabalho que não lhe deixa feliz, mas que te traz renda e conforto até que as insônias aparecem. Deseja a cada viagem de trabalho que seu avião caia e termine tudo agora, neste exato segundo. Quão controverso pode ser os sentimentos de uma pessoa?

Eu lhes apresento o personagem principal deste livro que considero surreal. É inteligente e inquieto. Em busca de conforto espiritual e físico que não encontra em sua vida, ele frequenta ativamente grupos de terapia. Que grupos? Deixo para vocês descobrirem.
“Você compra móveis. E pensa, este é o último sofá que vou comprar na vida. Você compra o sofá, e fica satisfeito durante uns dois anos porque, aconteça o que acontecer, ao menos a parte de ter um sofá já foi resolvida. Depois precisa do aparelho de jantar certo. Depois da cama perfeita. De cortinas. E do tapete. Então você fica prisioneiro em seu belo ninho e as coisas que costumavam ser suas agora mandam em você”.

Tudo está indo muito bem para o nosso personagem que se alivia nos braços da terapia até que surge uma nova integrante. Ele sabe que ela não tem os itens indispensáveis para pertencer aquele grupo, assim como ele. Ela o perturba, o deixa desconfortável e sua insônia retorna. Um impostor que não consegue mais chorar e extravasar seus sentimentos na frente de outro impostor. Apresento Marla Singer.

E como uma bomba relógio de sentimentos e necessidade extrema de expor tudo isso ao mundo de alguma forma, ele conhece Tyler Durden tão despretensiosamente como quanto resolvem criar um clube de luta. A maneira ideal de se libertar e viver fora das regras sem sentido impostas pela sociedade. O mundo é melhor quando você mostra o lixo humano que é.
Apresento a vocês a dica desta semana do qual, ao falar dele já estou quebrando sua primeira regra.
A primeira rega do clube da luta é que você não fala sobre o clube da luta”.
Autor: Chuck Palahniuk 
Tradução: Cassius Medauar
Editora: Leya
Páginas: 272
Gênero: Romance

Clube da Luta foi escrito por Chuck Palahniuk lançado originalmente em 1996. Se tem algo que ele te ensina é que só quando se está no fundo do poço é que entendemos o real sentido da vida. Não há como descobrir isso dentro da sua casa perfeita, com seus móveis de marca, suas roupas de grifes e seu carro do ano.
“Durante milhares de anos os humanos foderam, sujaram e fizeram merda com esse planeta, e agora a história espera que eu limpe tudo. Tenho que lavar e amassar as minhas latas de sopa. E dar conta de cada gota de óleo de motor usado. E tenho de pagar a conta do lixo nuclear, tanques de combustível enterrados e terra cheia de lixo tóxico jogado lá uma geração antes de eu nascer.”
A história é violenta, rápida e contada como cenas de um teatro. Cada um individualizado com um grande encaixe. Começa pelo fim e te apresenta a vida de pessoas marginalizadas pelo mundo e o que ele pode fazer com você. Uma sociedade fútil criticada abertamente, cheia de pessoas deprimidas e carentes de atenção. Um livro cheio de frases de efeito e sacadas que são verdadeiros socos na boca do nosso estômago.

"A propaganda faz essas pessoas irem atrás de carros e roupas de que elas não precisam. Gerações têm trabalhado em empregos que odeiam para poder comprar coisas de que realmente não precisam.- Não temos uma grande guerra em nossa geração ou uma grande depressão, mas na verdade temos, sim, é uma grande guerra de espírito. Temos uma grande revolução contra a cultura. A grande depressão é a nossa vida. Temos uma depressão espiritual. ”


Fica difícil falar mais sem dar spoiler, do qual não é a minha intenção. Mas deixo a vocês mais um trecho e uma grande dica de leitura.
Até a próxima!
Obs.: O gênero me deixou desconfortável pois para mim está bem longe de um romance. Entretanto chequei três sites diferentes de livrarias e todos classificaram-no desta forma.

Texto originalmente publicado em Immagine

terça-feira, 14 de agosto de 2018

O rei de amarelo

Oi pessoal! Tudo bem com vocês?
Hoje vou falar daquele livro que você é louco para ter, porém por algum motivo aleatório até hoje não comprou. O meu sonho de consumo é O Rei de Amarelo. Sendo bem sincera eu não sei muito sobre o livro, mas vou te dar os motivos desta minha fissura por ele. Eu tenho certeza que eu não sou a única deste mundo com este comportamento, haha.
Tudo começou com uma série HBO, True Detective, 1° Temporada. Vocês já assistiram? Pois deveriam.

A série trás McConaughey e Woody Harrelson como Rust Cohle e Martin Hart, dois detetives que passam nada mais nada menos que dezesseis/dezessete anos de suas vidas amarrados a investigação de crimes de um serial killer em Louisiana, USA.
Com o assassinato macabro de uma prostituta com fortes indícios de rituais pagãs, a trama te prende do início ao fim para o surpreendente desfecho além do fato de explorar o lado pessoal e mais profundo dos detetives, mostrando seus fracassos quanto a homem, esposo e pai de família. Com o decorrer da série as pistas vão ficando surpreendentes abordando temas como rituais pagãs, assassinatos de jovens e crianças, estupros em paróquias, possíveis suspeitos descartados por pertencerem a alta sociedade e o tal e misterioso “Rei de Amarelo” e por aí vai.


Autor: Robert W. Chambers
Tradução: Edmundo Barreiros
Editora: Intrínseca
Páginas: 380
Gênero: Ficção
Pesquisando mais sobre a série descobri que ela teve como inspiração uma coletânea de contos góticos publicadas em 1985. O escritor de terror Robert W. Chambers (1865 – 1933) teve uma carreira de sucesso em seu tempo e seu grande triunfo foi O Rei de Amarelo.
A obra tornou-se referência na literatura do gênero e influenciou nomes como H. P. Lovecraft, Neil Gaiman e Stephen King.
Então buscando mais sobre este Autor, achei na Intrínseca um belo relato da obra e a publicação O Rei de Amarelo, só para me deixar mais louca por ele: O Rei de Amarelo faz alusão a um livro dentro do livro – mais precisamente, a uma peça teatral fictícia – e seu personagem central, uma figura sobrenatural cuja existência extrapola as páginas. Pouco se sabe a respeito do texto original em dois atos, exceto que  seus leitores são levados à loucura, condenando sua alma à perdição. Um risco a que alguns aceitam se submeter, dado o caráter único da obra, um misto irresistível de beleza e decadência.
O livro fictício O Rei de Amarelo aparece em quatro dos dez contos reunidos na coletânea. Os outros seis contos alternam entre o sobrenatural e a realidade, em épocas e geografias diferentes. A introdução e as notas do jornalista e escritor Carlos Orsi, um dos autores publicados na antologia americana Rehearsals of Oblivion, clássico tributo a Robert W. Chambers, ajudarão novos leitores a mergulhar na bem-construída mitologia do autor. (Intrínseca)
De tirar o fôlego, né? Desde então este livro entrou na minha lista de desejos, porém até agora nada de eu adquiri-lo. E vocês, possuem algum livro consumo que por algum motivo ainda não compraram?

Texto originalmente publicado em Immagine

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Uma relação de amor e ódio

Olá pessoal! A cada quinze dias vocês irão me ver por aqui dando pitacos e resenhas de livros, além de compartilhar como mantê-los em bom estado e como ler mais!
Antes de mais nada gostaria de explicar a vocês que muito do que vou dividir é a minha opinião pessoal sobre os livros então, se por acaso eu não agraciar o seu predileto com tanto entusiasmo, me perdoe. Juro juradinho que não foi com intenção.
Ah, não vamos nos prender a livros conceituais, de leituras que dão um nó na nossa cabeça de tão complexos ou cult, afinal não temos que aparentar ser sabichões literários. Eu irei compartilhar com vocês erros e acertos de inúmeras compras no escuro, indicações e de todos os estilos possíveis.
Vamos falar de sofrimento? Pois esta “protagonista” em uma escala de 0 a 100% se entristeceu, chorou, foi julgada e doou completamente a sua vida em 98% das vezes. Com uma baita história linda e triste e que me fez repensar se eu terminaria a leitura por diversas vezes, hoje vamos de A Teoria de Tudo.
Autora: Jane Hawking
Editora: Única
Páginas: 448

Média de preço: R$ 17 – R$ 39
O livro foi escrito por ninguém menos que Jane Wilde Hawking, ex-mulher do cientista conhecido mundialmente, Stephen Hawking. Casados entre os anos 1965 a 1995, Jane conta como conheceu, apaixonou-se e casou-se com Stephen. O livro biográfico não se limita ao romance dos dois, ele se aprofunda na relação familiar complexa e difícil entre Jane e os pais de Stephen, a descoberta da doença degenerativa, sua rotina e o reconhecimento profissional – dele – e a perda dos sonhos de Jane.
O livro é um tanto quanto intrigante e sua narrativa inicia-se com as apresentações das famílias, tanto de Jane quanto dos Hawking’s. A Jane apresentada é uma mulher vigorosa, com desejo de descobertas e conhecimento, sempre participando de intercâmbios e viagens conforme lhe era possível. Conhecemos uma mulher com um grande desejo de viver sem grande ostentação.
Por sua vez, a família Howking é um tanto diferente. Família de mais posses e “cultura” digamos, Stephen e seus irmãos sempre foram instigados a serem melhores e brilhantes. A mesa de jantar assuntos científicos é costumeiro, além de frequentarem constantemente óperas e atividades culturais mais requintadas.
Assim que Jane conhece Stephen não é amor à primeira vista, mas aquele rapaz um tanto peculiar lhe chama a atenção, até que percebe que sua preocupação constante com ele é na verdade amor. Stephen por sua vez descobre que possui uma doença sem cura e degenerativa, a ELA – Esclerose lateral amniótica e lhe dão 2 anos de vida. Começa então o calvário de Jane.
Caracterização dos atores protagonistas na adaptação cinematográfica
O livro nos dá a impressão de ser muito sincero. Jane explana suas emoções e por muitas vezes ressentimentos quanto as situações que enfrenta. Há momentos (e que se repetem em um eterno ciclo vicioso) ela está completamente só e sem apoio. O livro aborda em várias ocasiões o brilhantismo de Stephen, a criação e a defesa de suas teorias, a dificuldade do meio acadêmico tanto quanto orçamentária quanto estrutural. Entretanto o foco é a vida deles e como enfrentam juntos e ao mesmo tempo sozinhos a doença.
“Eu precisava agarrar-me a qualquer fio de esperança que pudesse encontrar e manter a fé suficiente por nós dois se houvesse algo de bom em nossa triste condição.”(p. 42)
Conforme a doença evolui, a vida do casal, dos filhos e dos pais sofrem interferência direta. Com ajuda muitas vezes advindas dos alunos do cientista, Jane é eternamente grata pelas pessoas boas que estão a sua volta, ao mesmo tempo que isso não é o suficiente para que ela siga alguns de seus sonhos, como terminar seus estudos. Em contrapartida, o sonho de Stephen ele segue ferozmente apesar de suas limitações.
– Credo Carol, como você pode escrever de forma tão sem coração sobre um dos físicos mais influentes da atualidade e que ainda enfrenta grandes dificuldades devido a sua doença degenerativa!?
É simples pessoal, eu senti muita solidão em Jane. Ao mesmo tempo que se doava grandemente para tornar a vida de Stephen a melhor possível, Jane não parava de ser julgada, diminuída e até questionada sobre a paternidade de seu terceiro filho. Tive para mim que este livro foi um grande desabafo sobre as três décadas de seu casamento. Apresenta o lado mais humano e verdadeiro dos sentimentos que teve e nos mostra claramente que quem convive com a doença também sofre tanto quanto o enfermo.
Quase desisti da leitura? Sim, confesso. Uma relação de amor e ódio. Inúmeras vezes o livro fica chato por conta dos mínimos detalhes repetitivos das dificuldades que eles passam por conta da doença. São tantas dificuldades que chega um momento que você pensa “Amiga, já entendi o seu sofrimento e de sua família. Vamos virar a página? ”. Um pouco cruel da minha parte escrever isto, mas estou sendo bem sincera. Dá um pouco de sono e parece que faltou dinâmica nestas partes.
Outro ponto a se destacar é a extensão de situações que no fim nada acrescentam a história como um todo, por exemplo, as explanações detalhistas ao extremo de visitas, festas ou situações do cotidiano. Tem que ter uma certa paciência.
Mesmo assim A Teoria de Tudo é uma história forte, com riqueza de detalhes (olha o amor e ódio aqui de novo) e acima de tudo comovente. Mostra abertamente o grande físico na sua completa dependência. Estes ciclos de um acontecimento feliz para cinco desagradáveis do livro te mostra a realidade nua e crua do dia-a-dia de uma pessoa com ELA e toda sua família. O quanto afeta a tudo e a todos.
E se você ainda está na dúvida se irá ler A Teoria de Tudo, vou lhe dar 7 motivos:
  1. Vai aprender o que é amor de verdade;
  2. É a biografia do maior físico do mundo;
  3. Conhecerá o processo da doença de Stephen e sua vida antes e depois de sua voz robótica;
  4. Não mostra um casamento perfeito e nem tenta glamourizar;
  5. Mostra que grandes mentes também erram;
  6. Restaurar sua fé no amor e que um final feliz não é necessariamente junto; e
  7. Que sucesso e brilhantismo não depende da capacidade física.
O livro ganhou adaptação cinematográfica lançado em 29 de janeiro de 2015 e rendeu um Oscar de Melhor Ator para Eddie Redmayne (Stephen Hawking) e uma indicação para Felicity Jones (Jane Hawking) como Melhor Atriz.

Texto originalmente publicado para Immagine