segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Cartas


Oi meu amor, tudo bem? Pois é, uma vez me questionou por que eu não escrevia cartas de amor à você. A resposta foi algo do tipo “isso é coisa de menina boba apaixonada” ou “o que, eu e carta de amor? Não, não sou como suas ex que te enchiam disso”. A verdade é que o motivo, a opção em não se colocar nesta objetiva de completa exposição é resumida em uma unica palavra: medo.
Eu já escrevi cartas carregadas de amor porque era o que eu sentia, ao menos achava que sentia. Infelizmente com o tempo isto escapa pelos nossos dedos como água que nem sentimos, quando percebo não havia mais nada lá e todas aquelas palavras não expressavam nada de valor, alem de palavras e mais palavras.
Minhas mãos ficam geladas só de eternizar isto que eu sinto agora e em algum momento onde predomine a nossa teimosia e talvez o egoismo, todo o sentido se perca. Olhar para trás e ver cartas seria como reviver um fracasso. Não quero passar pelo momento em que todas as mulheres um dia já passaram: ler as cartas enviados a aqueles que detinham nossos sentimentos e sentir o vazio das linhas. Reler cada letra que foi passada ao papel com tanto fervor e paixão e não arrepiar um sequer do corpo.
Cartas de amor são lindas e cruéis. Eu prefiro supervalorizar sua crueldade sentimental e me manter afastadas delas e de qualquer vulcão emocional. Eu prefiro recados pequenos. Eu prefiro lembretes. Eu prefiro que escreva frases nos meu livros. Essas coisas desconexas fazem mais sentido pra mim.
Uma frase boba em algum canto, um papel pequeno e menos chamativo é aonde ira encontrar minhas demonstrações, e elas terão mais valor do que um papel com vinte e tantas linhas de descrição amorosa. Acredite. Talvez me falte as palavras, mas jamais sentimentos.
V.S.R.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

É o fim de um relacionamento, não do mundo


Não é o fim do mundo. Você não morreu. Muito provavelmente ele não irá morrer também. Você não está despedaçada como diz estar. Copos de vidro se despedaçam. CDs, celulares, óculos, computadores, aviões e carros, também, são destruídos. Mas você não. Pelo menos, não fisicamente. Pelo menos, não no sentido real. E a vida é real, né? Tem uns pingos de fantasia causados por sessões de comédias românticas e livros do Nicholas Sparks, mas a vida é real.
Você tem a unha a fazer. Tem o cabelo a cortar. Tem aquele vestido novo que saiu no catálogo da tua loja predileta para comprar. Tem a casa para arrumar. Tem tuas amigas para te ouvir chorar e berrar um pouco – ou muito. E tem uns tantos outros amigos para te elogiarem quando você precisar de alguém falando que teus olhos castanhos são tão bonitos quando você não está com a maquiagem borrada por causa de lágrimas desnecessárias. Então, pra quê chorar?
Há muitas garrafas de vodca, também, caso queira dar uns goles na loucura. Tua cabeça irá doer depois. Mas é ressaca. É uma resposta física do teu corpo sobre a quantidade de álcool que você ingeriu na noite anterior. Fique tranquila. Essa enxaqueca não é remorso, nem nada emocional. Chore, vomite e beba bastante água que você irá melhorar. Ou tome mais álcool que dizem funcionar também. A escolha é tua.
A tua vida não se resumia a ele. Eu te juro de pé junto, isso. Você pode até se sentir incompleta, mas está aí, disposta, viva e respirando. Com algumas olheiras e umas ideias loucas a mais, mas está bem. O tempo cura tudo que o tempo pode curar. Daqui a pouco, ele vai ser só mais um rapaz com mãos bonitas e um cheiro gostoso que passou por tua vida. Você vai ver. Enquanto você chora por um cara, há mil outros caras esperando, apenas, uma chance para te fazer sorrir.
Não sou nenhum aspirante a psicólogo-sei-tudo-sobre-as-pessoas. Acho Freud um saco e Jung um louco. Mas sobre o amor e teus sintomas, parece que eu já nasci com diploma e mestrado. Já amei demais quem nem gostou do meu cabelo bagunçado. Já amei de menos quem já sonhou comigo durante noites eternas de inverno. Já chorei como uma criança órfã e perdi dias de sol e noites estreladas. Mas não me destruí. Destruí porta-retratos, pratos, cartas e até aquele conjunto de tulipas do meu time predileto que ganhei no Natal. Mas meu coração ficou intacto. O teu também ficará.
Logo, logo, aparecerá outro cara que gosta tanto de adoçante como você. Outro que também não consegue ficar uma noite inteira sem resolver alguma briga qualquer. Outro que te dará a mão e o mundo inteiro ao redor será anulado. Outro cara com cabelo bom para acarinhar e com olhos infantis. Outro com um sorriso talhado e com gosto musical estranho. Você vai ver. Vai senti-lo. Vai respirá-lo. E vai amá-lo como se fosse a primeira e a última vez. Porque o coração é uma casa forte e espaçosa e sabe, vez em quando, renovar seus moradores.
Escritor, carioca e autor do romance “Um Sorriso de Oito Graus na Escala Richter”. Fã do Capitão Planeta e da Zooey Deschanel, aprendeu na marra que ser romântico é não ter pudor como quem se ama. Atualmente publica seus contos e trechos dos novos livros na página: www.facebook.com/fanpagehr e participa de vários sites, entre eles Entenda os Homens (que é da onde li este texto).