Imagine a seguinte situação: você está envolvida com alguém, mas
acaba fazendo algumas besteiras. Consciente de seu erro, se culpa por
não terem dado certo. Se assume como aquela que estragou tudo, que agiu
por impulso, por vontade, por tesão. Se deixou levar sem ponderar as
consequências, se permitiu excessos de raiva sem motivo, crises de
ciúmes sem razão. Vem o término, a superação e o recomeço. Então,
sente-se de novo apta a amar e, logo, cruza com alguém que julga ser
merecedor ou que, racionalmente, vale a pena. E traz à tona todo
sentimento de insegurança, de medo. Decide fazer tudo certo dessa vez,
como manda o figurino. Confiante de que aprendeu a sua lição com o
relacionamento anterior, não dá ponto sem nó. Ensaia diálogos, esconde
dúvidas, tece à fino trato uma rede de ilusões. Mas, novamente, as
coisas não dão certo. E, dessa vez, se frustra por não caber em si tanta
culpa. Mas sabe o que aconteceu, minha amiga? A vida.
Então, esqueça tudo que você sabe sobre relacionamentos, esqueça tudo
que você sabe sobre amores, dores e rancores. E de uma forma livre, sem
que hajam lados dispostos, sem que haja certo e errado, sem que existam
sequer culpados, vamos falar de amor próprio.
1) O tempo rege todo o esquecimento. O que se
torna bastante conveniente quando se trata de esquecer amores
fracassados, palavras inapropriadas e atitudes vergonhosas. Mas é também
indiscutivelmente doloroso quando te rouba a melhor lembrança da risada
de alguém, todos os momentos que foram felizes juntos e toda certeza de
seus planos. Sendo assim, o esquecimento rege todo o tempo. O
tempo todo. E manter viva qualquer memória, se apegar a qualquer
passado, exige muito mais do que querer; é preciso coragem pra não
fechar antigas cicatrizes com novas histórias.
2) A saudade é traiçoeira e, como tal, te deixa
vulnerável, à mercê de qualquer conforto ou bem querer na eternidade de
um segundo. Eventualmente, você descobre que nem sempre é real, é só um
desejo que te aperta o peito. E passa.
3) Distância não existe. É só uma desculpa pra
que você sinta-se menos culpado por deixar passar pessoas importantes.
Ou pra que você se sinta menos culpado por deixar morrer qualquer
sentimento relevante. O cansaço existe. Às vezes, de um lugar,
um trabalho, uma rotina e quase sempre de alguém, então, vem a distância
e você se sente um pouco mais aliviado por não precisar lutar por isso.
4) Amadurecer é aprender a engolir sapo, levar desaforo pra casa
e fazer ouvido de mercador, sem achar que isso te faz inferior. Ou
seja, você se torna mais paciente, tolerante e têm seu silêncio como escudo.
Nem todas as pessoas valem a pena o bate-boca, nem toda razão vale a
pena o confronto, nem toda amargura vale a pena com o tempo.
5) Ninguém está condenado a ter só um amor pra toda vida.
Não se cobre tantos acertos a dois se sequer está pronto pra viver
sozinho. E tampouco, o risco de uma chance só. Ame, arrependa-se,
esqueça, perdoe e ame de novo. Mantenha cíclico todo sentimento que te faz vibrar o coração.
Às vezes, até mesmo sentir uma pontada de dor faz bem. Se alguém não
vier pra te fazer feliz, que pelo menos, não passe sem te fazer melhor.
Queira alguém que te faça perder a linha, a cabeça, o medo. Que te
queira nas piores entrelinhas, nos injustificados erros. Queira alguém
que seja mutável, flexível, pra tirar de letra as têmperas dos caminhos
tão certos. Queira alguém que seja mais do que seu amor seguro, que seja
seu melhor amigo e sua impiedosa consciência. Queira alguém que te
queira por escolha e, não, por destino ou obrigação. Queira alguém pra
te querer pra vida toda, ainda que se perca nas armadilhas do “pra
sempre”.
6) Pessoas não são descartáveis. Por isso,
tenha consciência de que não deve deixar a encargo do tempo que esqueçam
o quanto as magoou. Peça desculpas, conserte suas falhas e as deixe ir.
Elas sempre vão embora e se não puder fazê-las ficar, faça-as
lembrarem-se de você com um sorriso no rosto e uma saudade gostosa no
peito.
7) Você nunca vai namorar com quem nunca ficou.
Em outras palavras, a felicidade propriamente dita também é uma questão
de oportunidade. Não é sorte, não é destino, não é carma. É
simplesmente a chance que você dar a alguém de se fazer especial. Não é
do nada que as coisas acontecem; tem a oportunidade, a chance, a
expectativa e o acerto. Ou seja, tem o primeiro passo, a quebra de gelo
e, às vezes, também o fracasso. Haja o que houver, sempre tem a
tentativa.
8) Valorize as pessoas certas. Você não tem
como mensurar qual o efeito que suas palavras e atitudes fizeram na vida
de alguém. Claro que tem como ter uma ideia da consequência se forem
ruins, mas não passa disso. Nesse caso, valorize as pessoas que tem um
apreço por você mesmo que seja gratuito e ainda que não seja recíproco.
Não se torne egoísta ao ponto de menosprezar o sentimento alheio que não
te apetece. E, às vezes, por simplesmente não ser alguém que você
gostaria que fosse, deixa escapar quem poderia ser melhor do que
imagina. E, principalmente, não rejeite novas pessoas porque algumas
antigas te machucaram.
9) Pare de endeusar o passado. Nada que seja
realmente bom ou mereça sua atenção está no passado. Não se lamente por
não ter sabido aproveitar o que não te compete mais a ter. Quando sentir
falta de algo enterrado, pense em aproveitar da melhor maneira o
presente pra não desejar tê-lo feito no futuro. É melhor se
sobrecarregar com o que há de mais intenso, mais proveitoso, do que se
arrepender por não ter feito o suficiente, entende?
10) Liberte-se de toda forma de controle.
Inclusive, de si mesmo. Em primeiro lugar, aceite que você não pode
controlar nada, quem dirá, tudo. E que, por mais que você se esforce,
eventualmente, as coisas não darão certo. A verdade é que devemos nos
esforçar o máximo que pudermos e, por fim, deixar que a vida aconteça. E
que leve, traga, permaneça e esqueça. Deixe que a vida aconteça.
Por Samantha
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