Depois de um relacionamento fail que tal uma crônica fofa sobre começos e o quanto eles são turvos. Primeiro, de play.
Virei-me para você e disse que estava tudo acabado sem acreditar muito nas minhas próprias palavras. Aquela situação estava me matando, não saber exatamente o que estávamos vivendo me corroía por dentro como ácido. Eu bebia meu veneno diariamente, doses não controladas de você.
Tentei controlar as lágrima idiotas que insistiam em
cair enquanto acelerava meu carro, as janelas abertas e o vento gelado em meu
rosto dava o fôlego que faltava-me, eram como mãos acariciando meu rosto já
molhado.
Agradeci em silencio ao perceber que não havia ninguém
em casa, não estava com ânimo para dar explicações a ninguém. Dentro da carteira
um ingresso amassado de uma festa qualquer, dinheiro jogado fora - pensei.
Qualquer vontade de sair, beber ou até encher a cara não brotava em mim, em vez
disso fui ao banheiro e me despi como se chutasse algo invisível e enfiei-me
debaixo do chuveiro. Por um instante quis uma banheira para ficar completamente
submersa na água quente, a sensação era que de algum
forma aquilo poderia aliviar a minha dor.
Me secar e me vestir foram processos tão automáticos
que só me recordo de jogar-me na cama em uma posição fetal e adormecer.
Alguma parte de mim queria que o som do celular tocando
me acordasse, seria você do outro lado da linha. Em vez disso despertei
sozinha, ainda era de madruga, duas da manhã. Olhei para a minha carteira
jogada no chão, o ingresso. Com vontade de sair deste momento catatônico ou apenas querendo
fugir da solidão - não sei - apenas me vesti, maquiei-me e saí de casa rumo a festa qualquer. Já era três da manhã e nada de
você, eu sabia que estava também em algum lugar bebendo, enchendo a cara
sozinho ou até já acompanhado. Você era indecifrável, não conseguia entender
seus sentimentos por mim e por tudo que já tínhamos passado. Talvez todo aquele
tempo só era eu querendo ver algo que nunca existiu.
Peguei o celular e disquei seu número mas antes que
desse o primeiro toque recuei.” O que eu estava fazendo? Chega desta palhaçada,
vamos em frente” falei a mim mesma. Mas não foi isso que aconteceu, no seu
celular ficou registrado uma ligação perdida que eu não queria, do outro lado você passava seu tempo olhando e
olhando aquela tela de celular madrugada adentro, como se monitorando para não
perder a minha ligação quando ela acontecesse. Ninguém queria dar o primeiro passo para o desconhecido chamado nós.
Meu telefone toca, atendo de qualquer forma meio
grosseira desconversando de que apertei o nome errado. “Posso ir ai te buscar” - ouço. Não queria parecer mole e frágil ao sentimento todo que
fazia-me comportar como uma adolescente sem nenhuma ideia na cabeça. Não queria
voltar correndo como um cão perdido, eu estava perdida mas não queria que isto
ficasse tão explicito.
Depois de beber e dançar de tal forma que aliviou meu
coração eu fui para casa e te liguei avisando que poderia vir. Em poucos
minutos você estava na frente do meu portão com seu cabelo loiro desgrenhado,
jaqueta de couro, seu velho coturno e um cigarro na mão. Entrei no seu carro um pouco arredia e então você disse “eu estou
tentando, vamos esquecer tudo e começar de novo...”. Começar? Já estava
terminando a noite, logo logo amanheceria e tudo aquilo ia parecer uma grande
besteira.
Em vez disso resolvemos esquecer, beber, dançar
e virar doses e mais doses de um whisky barato. Só sabíamos rir de besteiras que não eram tão
engraçadas assim. Você mexia no meu cabelo enquanto ficava um degrau abaixo para termos o mesmo campo de visão, falava dos minutos esperando pelos nossos encontros e das manhãs que acordava ao meu lado. Nossos jantares a dois que insistíamos em não intitula-los de românticos e os vinhos, muitos vinhos.
Por fim uma parada em uma padaria qualquer, olhei no relógio que já marcava sete da manhã. Um novo dia começou e estávamos lá, no ponto de partida novamente nos olhando sem saber ao certo onde tudo isso vai dar. No fundo não queríamos mais pensar que fim encontraríamos.
Apenas viveríamos
Por fim uma parada em uma padaria qualquer, olhei no relógio que já marcava sete da manhã. Um novo dia começou e estávamos lá, no ponto de partida novamente nos olhando sem saber ao certo onde tudo isso vai dar. No fundo não queríamos mais pensar que fim encontraríamos.
Apenas viveríamos
V.S.R.
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