Um tempo desse, um garoto que eu ficava disse que não confiava em mim
porque eu bebia demais. Eu fiquei uma fera. Independentemente do fato
de que ele simplesmente não tinha o menor cacife para falar de mim, o
que me tirou do sério foi ser julgada “como casal” pelas minhas atitudes
como solteira. Tenho pavor dessa ideia provinciana de que “mulher para
namorar” tem que seguir à risca os mandamentos de adestramento do Manual
da Mulher Direita. O que diabos é ser uma mulher direita, afinal de
contas?
Superei.
Acredito que uma pessoa que julga seu caráter através do seu
comportamento quando você está solteira, sem dever nada a ninguém,
pagando as próprias contas e com o coração vazio – e o copo sempre cheio
– não é o tipo que me interessa. Não é o homem direito pra mim.
Simplesmente porque, honestamente, as duas coisas não se misturam.
Você pode ser o maior farrista de todos os tempos e quando se
comprometer com alguém ser um namorado exemplar. Aliás, pode ter
demonstração de comprometimento maior do que aquele que acredita que a
recompensa por se dedicar a uma vida a dois é maior do que a vida de
solteiro? Poxa, esse é um grande feito desprezado! Não há nada mais
lindo do que ver um cafajeste tomando jeito. Inclusive, pro nosso
próprio ego – sejamos sinceras.
Acontece que eu não tenho mais idade para largar o copo por alguém.
Ou mudar a cor das minhas unhas, meu jeito de dançar, o corte do meu
cabelo. A essa altura do campeonato, meu bem, as concessões que nós
fazemos são de dentro pra fora. São aquelas que podem ser mais sentidas
do que vistas. Aliás, aceitar alguém com todos suas manias, seus berros e
seus defeitos é, em primeiro lugar, um grande ato de altruísmo. Claro
que se alguém não vier pra te fazer melhor, o ideal é que sequer
permaneça em sua vida. Mas não esqueça que o melhor e o pior serão
sempre uma questão de opinião. O que você vê como melhor para os outros –
porque é para você – pode não ser, afinal de contas.
Não vou nem me explicar em relação à bebida. Não vejo necessidade de
fazer meu filme pra vocês. Já passamos dessa fase. Acontece que quando
eu vi essa notícia me senti no dever de compartilha-la: uma pesquisa na
Noruega diz que os casais que bebem juntos estão menos propensos ao
divórcio do que aqueles em que só um dos dois bebe. Exceto, quando ambos
são alcoólatras, lógico. Salve, salve, a ciência!
A questão é: estar com alguém já é difícil por si só. Tenha em mente
que ter alguém ao seu lado não é uma conquista, é uma escolha. Ninguém é
obrigado a aguentar cada mania, desleixo, fio de cabelo pela casa,
toalha molhada em cima da cama de outro. A gente aceita certas coisas
porque sabemos que as boas sobrepõem. E cada detalhe do dia a dia se
torna ínfimo perante a eternidade de cada momento bom.
Não vai se tornando mais fácil. Muito pelo contrário. Às vezes, anos
se passam e você descobre algo sobre a pessoa que nunca imaginou. E
sente-se traído, decepcionado… cansado! A verdade é que um
relacionamento estável é aquele em que ambos se adaptam as loucuras,
infortúnios, mudanças e prazeres do outro. Ele é flexível, moldável e,
não, sólido e imutável como acreditamos em nossos vinte e poucos anos.
Sabe, não é a bebida que faz com que o relacionamento perdure. É a
válvula de escape que ela representa. Todo mundo precisa de uma. Todo
casal precisa em algum momento do dia – da vida – estar relaxado o
suficiente pra rir dos problemas, do estresse, da lei de Murphy que nos
acompanha constantemente. Todo casal precisa se fazer rir.
Para alguns, a bebida. Para outros, uma praia, uma viagem, uma música.
Ao invés de procurar afastar-se por causa das diferenças, agarre-se a
qualquer fio de afinidade, de compatibilidade, que há entre vocês.
Aproveite qualquer coincidência pra criar uma lembrança, porque no
final, isso é tudo que importa: o que você colecionou na memória para
fazê-los feliz.
Li no Bendita Cuca
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