Esta é a ironia de estar conectado às
redes sociais e ver justamente o novo clipe do cantor belga Stromae
criticando esta permanente conexão em que vivemos. Divulgado pelo
site Buzzfeed, o clipe Carmen é embalado pelo estilo já consagrado de
Stromae no cenário do hip hop francês, em um rap com letra crítica e
irônica, mas desta vez seguindo o ritmo da clássica criação feito para a
ópera Carmen, de Bizet.
Dirigido pelo aclamado diretor Sylvain
Chomet (de As bicicletas de Belleville, O mágico), o clipe expõe o
primeiro contato de uma criança – Stromae, no caso – com uma inocente
selfie feita ao lado do passarinho azul símbolo do Twitter.
“Em 1875, Georges Bizet comparou o amor a
um pássaro rebelde. 140 anos depois (e em 140 caracteres), o amor é um
pássaro azul”, disse Stromae ao Buzzfeed, afirmando a proposta do clipe
em apresentar a ilusão que temos do amor como expresso inteiramente nas
redes pelo número de seguidores.
Após o primeiro contato com o passarinho
que emite um assobio – o tweet, ele e o celular se tornam cada vez mais
presentes na vida do personagem. O passarinho destrói o prato de
macarrão na mesa, simbolizando o isolamento do rapaz que permanece
conectado no celular diante da família. O difícil contato com as
pessoas. A ilusão de que há uma clara popularidade, pelo número de
seguidores que aumenta, e o consumo incessante. A selfie na festa parece
alegre pelas hashtags, enquanto o passarinho destrói o bolo e a sala
está vazia.
A atmosfera do clipe encaminha para uma
realidade em que todos – incluindo as autoridades – acabam sendo levados
ao fim iminente, na boca de um grande pássaro azul que se alimenta
destes que vivem em torno apenas das redes sociais. E, mesmo diante
deste caos apocalíptico, ainda resta tempo para tirar mais uma foto e
expor o horror de estar ao fim com o celular sempre à mão.
O curioso é constatar que Stromae liberou
o clipe pelas redes sociais, no instagram, com uma foto sua tal qual a
versão do desenho, além de outras dele no mesmo estilo (veja aqui).
Já estamos inseridos em uma vida que se define pela presença no
facebook, o contato pelo twitter, o significado das fotos publicadas.
Contudo, como se pode ver, ainda resta espaço para a crítica a esse
grande pássaro azul que nos consome.
Li no Literaturtura
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